quarta-feira, 17 de julho de 2013

A estrada e o peregrino



Era uma madrugada como tantas outras, não fosse o colorido diferente da aurora; Nem ainda havia amanhecido o dia, e já tinha minhas roupas molhadas pelo orvalho do campo e a face gelada parecia congelar de frio. A roupa tinha o cheiro acre das flores do campo. Os olhos se perdiam no alaranjado do horizonte...mas, era preciso caminhar, mesmo sem saber o rumo certo. O horizonte sempre nos aponta um rumo - pensava. E, meio sem saber a que destino me levaria a estrada, caminhei... E, percebia que a cada passo o horizonte distante aquecia o frio da pele e  da alma, dando -me esperança ao coração. Mas, não andei muito até perceber que não estava só - havia ali um peregrino, bem juntinho de mim, que num suave gesto aproximou-se...E ao me desejar um bom dia, num sorriso de confiança, perguntou-me: 

- Donde vais? a quem irá? qual é o fim de tua trajetória?...- E chamou-me de filho!

 E, correspondendo-lhe o sorriso disse-lhe  que precisava alcançar o horizonte  de meus ideais nas terra das promessas de Deus.

Estranho. Aquele sorriso era conhecido.Eu o conhecia de algum lugar...não sei...- pensava.

E o silêncio nos acompanhou por um bom tempo. Somente a música serena da estrada e os mistérios dos sons desconhecidos...quando finalmente, quebrei o silêncio, ao colocar a mão sobre seu ombro: 
- E tú, amigo? que fazes por essas bandas, tão sozinho? Estás buscando, também, o teu horizonte? 

E, prontamente, respondeu-me: 

- Conheço essas estradas  há muito tempo. Sei cada obstáculo que há nela.Um a um. Tenho em minha memória cada nuance e contraste de suas curvas. Minhas alparcas empoeiradas, sabem muito bem...

E seguimos juntos à estrada, que para mim era desconhecida. Mas, que felizmente se tornava aprazível pela companhia de um estranho peregrino. E,  assim  seguíamos, rumo aos meus ideais e sonhos...E, em cada  ponto de nossa conversa mais aquecia a chama de minha esperança. Agora, minha história tinha um rumo. Minha fé ganhava coragem. E, me punha a pensar o que seria de mim, se não fosse a companhia sincera e amiga daquele peregrino. Suas histórias  de fé, seus relatos das estradas. Suas experiências no Caminho...tudo isso soava em meus ouvidos como uma canção de fé.


Nem percebi e já havíamos caminhado tanto. Era como um livro que se abria; Como uma história que ia sendo contada; parecia que cada cena e fala se confundia um pouco com  a realidade.


Num dado momento, numa curva  misteriosa, que surgiu do nada, o peregrino parou, olhou-me nos olhos, pôs a mão em meu ombro e disse-me: 


- Adeus, amigo. Foi muito bom o caminho. A sua companhia me fez bem; Valeu a pena caminhar o caminho  da fé em sua companhia. 


 Ao que respondi: 


- Adeus, amigo. Se não fosse você não teria chegado aonde cheguei. Não teria vencido os desafios e distrações da estrada...adeus, amigo...


E nesse momento abriu-se à minha direita uma cortina de nuvem...e do meio dela  uma seara de trigo, amarelo como ouro. Neste instante o forasteiro amigo já se distanciava, e com palavras quase cantadas, disse-me: 


- Quando pensares em voltar ou desistir, lembra-te do caminho que já percorrestes; Não dês ouvido  ao grito insistente dos que zombam e à voz aguda dos que só maltratam; não se importe com as atitudes daqueles que não olharão em seus olhos, nem apertarão a sua mão; Mas,  caminhe a cada manhã. Insista no trabalho da Seara. 


 E, atraído pelo brilho  do trigo  que reluzia ao sol e despontava longe no horizonte, nem vi que o peregrino seguia caminho; Nem notei quando o orvalho, de novo, molhava as minhas vestes. 


E, foi assim que caminhei o caminho da fé, passo a passo, no ritmo da Esperança e do Amor, lado a lado com Deus!.



Marizan Di Carvalho

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